quinta-feira, 17 de maio de 2012

Carta aberta a todos os Progressistas, amigos do Sport Progresso e dos Green Bull’s.



Serve a presente para transmitir a todos os Progressitas, amigos do Sport Progresso e dos Green Bull’s, assim como a todos os interessados que a minha ligação ao Sport Progresso termina no final do jogo do próximo sábado!

Tal decisão foi transmitida ao meu grupo de trabalho na terça-feira, dia 15 de Maio de 2012.

Muitos perguntar-se-ão quais os motivos para a minha saída depois de uma época repleta de sucessos, onde conquistamos o segundo lugar do campeonato, posição que nos deu a subida de divisão, onde fomos o segundo melhor ataque, a terceira melhor defesa, a segunda equipa com mais vitórias, a segunda equipa com menos derrotas, tudo isto conquistado com muito trabalho, com muito empenho, com muito respeito e dedicação pela instituição Sport Progresso. Tudo isto, feito por uma equipa, um grupo completamente novo. Que jogou todos os jogos sem qualquer contrapartida financeira, sem qualquer apoio monetário, ao contrario das equipas que ficaram, imediatamente, à nossa frente e atrás de nós. Um grupo de trabalho composto por 23 jogadores novos, juntando os seis que transitaram da época anterior, sendo que destes seis, apenas três terminaram a época, com uma equipa técnica nova no clube, com dois directores experientes e aos quais se deve, também, muito do sucesso alcançado.

Por estes motivos e de forma a não fazerem juízos de valor e de personalidade, sem saberem as verdadeiras razões, decidi escrever esta carta, onde colocarei tudo aquilo que se passou para que eu tomasse, em consciência, a decisão de deixar o comando técnico do Sport Progresso.

Não sou um “iluminado” do futebol, nem tão pouco quero que, ao lerem esta carta, olhem para mim como se fosse um “santo”, já que a realidade não é essa nem tão pouco pretendo passar essa ideia.

Sinto-me na obrigação de ser sério, sincero e directo com as pessoas que me apoiaram durante esta época, com aquelas que acompanham a minha carreira, assim como com aquelas que visitam este blog.

Antes de mais aproveito para dizer, a todos quantos lerem esta carta, que, respeito muito a instituição Sport Progresso, um clube com 103 anos de idade, com uma mística muito própria, mística essa que nem todos a sentem, mas que batem no peito dizendo que são progressitas, no entanto as suas acções demonstram que, apenas o são de boca e porque fica bem dizer.

Tomei a decisão de deixar o comando técnico do escalão senior do Sport Progresso porque não sou um treinador agarrado ao lugar, nem tão pouco seria capaz de treinar onde não me sinto valorizado e desejado pela direcção desse clube. Comecei a sentir, na recta final da época que talvez não fosse o treinador que a nova direcção tinha idealizado para a época 2012/2013, muito devido pelas conversas que ia ouvindo e pelas movimentações que ia vendo em torno dos elementos que, eu sabia, fariam parte da nova direcção. Contudo e tendo um compromisso com a direcção actual, mas acima de tudo com os meus jogadores e com os nossos adeptos, senti que deveríamos lutar até ao final pelo nosso objectivo. Objectivo esse que veio a ser concretizado! Se calhar para espanto de alguns e, nessa altura, as intenções tenham saído goradas.

Depois de conquistarmos a subida de divisão, ninguém da nova direcção veio falar connosco, dar-nos os parabéns por algo que tínhamos conquistado, ou melhor, deram, de forma circunstancial e num ambiente de festa, mas nada mais do que isso e ninguém se mostrou disponível para falar connosco e pelas conversas que tive com um elemento que transitou da anterior para a nova direcção, percebi que os mesmos não estavam com grande interesse em conversar e negociar. Mas aquilo que mais me custou, foi na assembleia que aconteceu na passada sexta-feira não nos terem dado a garantia que seriamos nós a continuar na próxima época, nem tão pouco demonstraram que tinham esse interesse. Apenas dizendo que conversaríamos o mais rapidamente possível para decidirmos o que fazer. A meu ver, com isto, aquilo que procuraram foi calar a pergunta dos sócios, não respondendo sequer, concretamente à questão. Sabendo também de fonte segura, que um dos directores da nova direcção seria um ex-jogador do clube, com que não contei por achar que não tinha capacidade para fazer parte de uma equipa que lutaria pela subida de divisão. O meu espanto, ou não, quando soube que este elemento tinha feito um ultimato para ficar na direcção, esse ultimato era, e passo a citar, “eu só fico se o treinador dos seniores for embora!”. Contudo, tendo a confirmação que os meus directores iriam reunir com a direcção eleita, para decidir o que fazer decidi esperar. Depois dessa reunião acontecer e sabendo alguns pormenores, ainda mais tive a certeza que as pessoas não estavam com interesse na minha continuidade. Foi indicado aos meus directores que teríamos de reunir na terça-feira, dia 15, sendo que a minha decisão foi tomada durante a noite de segunda-feira, porque senti que o melhor caminho seria mesmo a saída, visto que a direcção me estava a abrir a porta. Cheguei ao campo à hora marcada, mas qual não foi o meu espanto quando os meus directores, e quando falo os meus directores, estou a falar daqueles que trabalham directamente comigo, Sr. Paulo Picarote e Sr. Oscar Jesus, que a reunião já não iria ser levada a cabo e que apenas reuniriam comigo depois do jogo de sábado. Nesse momento, ainda mais tive a certeza que a minha decisão era a mais correcta. Alem disso percebi que o receio da direcção era que, falando comigo e, me transmitindo a minha não continuidade que a equipa se poderia recusar a ir ao jogo no sábado, mas aquilo que eu posso dizer é que mesmo depois de ter transmitido a minha decisão ao plantel e havendo, como é obvio, alguns jogadores que não se sentiam motivados para ir ao jogo, eu expliquei as razões pelas quais devíamos ir. O respeito pelo clube, pelos nossos adeptos e principalmente devido ao falecimento, na passada semana, do nosso adepto mais representativo, eram as nossas motivações para fazermos o ultimo jogo. Aqui mais uma vez fica demonstrado o caracter que esta equipa tem, a humildade que este grupo tem e sem duvida alguma que algumas pessoas naquele clube estão a anos-luz deste jogadores, equipa técnica e directores de escalão. Para cumulo chegamos para treinar e nem cestos tínhamos feitos, nem hipóteses tínhamos de aceder à lavandaria para treinar.

Por todos estes motivos, a minha decisão está tomada e é irreversível. Representarei o Sport Progresso até ao dia 19 de Maio de 2012, depois do jogo com o Amarante deixarei um lugar que ocupei com muita honra, com muito orgulho e felicidade, mas também com muito respeito, com muito empenho, com muito trabalho e  com muita humildade.

Acredito que tenha feito a vontade a algumas pessoas, assim como acredito que muitas pessoas ficarão tristes por eu sair do clube, mas não podia ir contra os meus ideais, não poderia permitir que me gozassem e que me fizessem sentir indesejado, num clube onde trabalhei de borla, ou melhor, para ser sincero, recebi no ultimo mês 100 €, pelo facto de me encontrar desempregado e de ter algumas dificuldades para ir para os treinos, mas nada mais do que isso. Onde montei uma equipa a custo zero, uma equipa jovem, com qualidade e com garantias de continuidade, mas pelos vistos não é a continuidade do sucesso que a direcção que tomou posse na sexta-feira passada queria fazer.

Quero desejar as maiores felicidades para aqueles que continuarem no clube, desejar que possam engrandecer o clube e pedir que não deixem acabar um clube que têm mais de 100 anos de historia e que tem de ser gerido como um clube de futebol e não como um banco.

Quero aproveitar para agradecer a todos aqueles que estiveram sempre do nosso lado, à FORÇA VERDE que nos acompanhou em todos os jogos, aos verdadeiros adeptos que acreditaram em nós e nos fizeram responsabilizar por um compromisso que assumimos, a todos aqueles que não acreditaram e que apenas sabiam e sabem dizer mal, aos meus directores pelo excelente trabalho que fizeram, para todos os meus jogadores que são os principais responsáveis por este sucesso, à minha equipa técnica e ao nosso massagista e acima de tudo a Deus por me permitir ter discernimento para encarar as decisões e por ter tomado as decisões certas.

Podem dizer o que quiserem, mas obrigatoriamente tenho de dizer que saio de cabeça erguida, com o dever cumprido, montei um plantel de 29 jogadores sem receber qualquer tipo de compensação monetária, destes 29, 26 terminaram a época, utilizei 3 juniores em jogos oficiais e os resultados dão-me razão. Por isso, digam o que quiserem, apontem o dedo a coisas que não têm qualquer valor quando colocadas na balança. Eu só tenho a dizer que, na primeira época que treinei seniores, subi uma das equipas mais antigas e mais laureadas da A. F. Porto e por estes motivos só tenho de me sentir feliz por tudo aquilo que fiz esta época.

Sou um treinador ambicioso, sei o quanto trabalho para poder melhorar todos os dias, sei que hoje sou mais treinador do que era no inicio da época, assim como tenho tentado moldar e abolir alguns erros que cometia no banco de suplentes. Quero com isto dizer que sei aprender com os erros e é dessa forma que quero evoluir para continuar a fazer algo que amo que é treinar futebol. Não penso que tenha de ser “lambe-botas” para  poder continuar a treinar. O que posso garantir é que vou continuar a trabalhar para melhorar e esperar que surja algum convite que seja interessante, quer em termos de objectivo, quer em termos de condições. Estou disponível para ouvir propostas e deixo o meu futuro nas mãos de Deus porque sei que o meu futuro a Ele pertence e nunca me deixou ficar mal.

Agradeço a leitura desta carta e deixo ao vosso critério as conclusões sobre aquilo que escrevi.

Muitas felicidades e que Deus vos abençoe a todos.

Milton Ribeiro
Treinador de Futebol

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